What is poetry? / O que é poesia?

In general terms, we can say that poetry is an aesthetic expression, a literary form. However, upon scrutinizing the object, we find within the same category completely different works from each other. Poetry is vast, it extends through different forms, techniques, and concepts. It is possible to find works with precise metric like Shakespeare's sonnets, free verse like Walt Whitman's, insane passionate flows like Hilda Hilst's, cursed verses like Charles Baudelaire's, experimental works like Christian Bök's Eunoia, innovative works like Sasha Stiles's technological metapoetry.

Given the variety of examples, we can understand poetry as an open and comprehensive concept. However, even in its extent, despite the immense differences, all poetic works have something in common that places them within the same great category: Poetry. Without seeking a definition, in this article we raise some considerations about what unites all poetic works. Would it be the essence of poetry?

We live in the comfortable world of signs. Most of the time we are in autonomous mode, circulating among social rules, chores, and daily tasks. Most of the time we are so immersed that we only live in the world in an automatic way. There are ways to break this daily torpor, one of these ways is art. Art makes use of the elements of the system to create works and perceptions that go beyond current meanings. Art opens aspects of reality that are ignored most of the time. As in the poem "The Machine of the World" by the Brazilian poet Carlos Drummond de Andrade, in this poem, the lyric I walks down an empty road, when he sees the world machine opening, tearing the veil of reason and revealing the primordial machination that composes life. The world machine is a poetic construction of the intensive plane present in the multiple aspects of reality, both objective and subjective reality.

There is an infinity behind the ordinary and art is able to reveal it. In poetry, the poet artisan crafts in the poem the potential that exceeds reality.

Poetry, although it is an art in close association with words, is anterior to writing. For example, the Homeric epics are part of an oral transmission tradition. The Iliad and the Odyssey were composed in such a way as to help the memorization of the bards, oral language turned the recitative performance into a public event. The verses were sung by the aedo who delivered the words to the listeners that in their imaginations created the world of the gods and the adventures of human heroes. From classical texts to experimental poetry, the poet is the artisan of a world that arise in the reader's mind.

The poem is almost like a magic spell, as it is read and re-read it is continuously absorbed by the reader. As the philosopher José Gil well puts it, when speaking of the work of poet Fernando Pessoa, poetry is a process of osmosis between the poet and the reader, through which the reader feels something together with the poet, something that was present in the writing and updates in the reading. The poet builds the poem as an electric, fluid and malleable membrane, an invitation to feel.

The poem does not reside in its form, this is the poet's lapidation giving outline to something that escapes understanding, something that is more of the sensory field than of the words. Using language to capture the impossible that dwells within us. About the writing process, Brazilian writer Clarice Lispector declared in a 1977 interview that "Writing is searching for understanding, it is trying to reproduce the irreproducible, it is feeling to the very end the feeling that would remain only vague and suffocating." Using language to reproduce the irreproducible, creating meaning for an experience that without artistic construction would be a suffocating feeling.

The poet is one who contemplates the unspeakable and takes upon himself the task of creating a way to share this sensation. It is interesting that Aldous Huxley in the classic The Doors of Perception, defines the artist as one who can withstand a greater opening of the doors of perception without being destroyed before the forces of immanence. Art, in general, has the power of recombination of signs. Following this line of thinking, making use of diverse elements and signs, poetry creates its own language, literary senses that constitute sharing planes that allow the reader to access the intensive that constitutes the poetic experience.

We return to the initial questions, What unites all poetic works? Would it be the essence of poetry?

We will not attempt to define the essence of poetry, perhaps this is one of the indefinable aspects of the concept, however, we understand that there is an essential aspect: The ability of the work to make the reader experience sensations imposed by the poet. Poetry is capable of creating, albeit temporarily, a sensory field of sharing, an experience of meaning that exceeds signs and words, enabling access to the intensive plane that constitutes life.

In the end, no matter how much one tries to theorize and understand poetry, the poetic act is the reader's experience. The feeling of losing the ground, the tightness in the chest, the relief from suffocation, the infinite that is touched when the eyes are on a poem.

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O que é poesia?

Em linhas gerais, podemos dizer que poesia é uma expressão estética, uma forma literária. Entretanto, ao esmiuçar o objeto, encontramos dentro da mesma categoria obras completamente diferentes entre si. A poesia é vasta, se estende por diferentes formas, técnicas e conceitos. É possível encontrar obras de métrica precisa como os sonetos de Shakespeare, versos livres como de Walt Whitman, fluxos insanos apaixonados como de Hilda Hilst, versos malditos como de Charles Baudelaire, trabalhos experimentais como a Eunoia de Christian Bök, inovadores como a metapoesia tecnológica de Sasha Stiles.

Tendo em vista a variedade de exemplos, podemos entender a poesia como um conceito aberto e abrangente. Entretanto, mesmo em sua extensão, apesar das imensas diferenças, todas as obras poéticas possuem algo em comum que as coloca dentro da mesma grande categoria: Poesia. Sem buscar uma definição, neste artigo levantamos algumas considerações sobre o que une todas as obras poéticas. Seria a essência da poesia?

Vivemos no confortável mundo dos signos. Na maior parte do tempo em modo autônomo, circulando entre regras sociais, afazeres, tarefas cotidianas. Na maior parte do tempo estamos tão imersos que apenas vivemos o mundo de maneira automática. Existem maneiras de quebrar este torpor cotidiano, uma destas maneiras é a arte. A arte faz uso dos elementos do sistema para criar obras e perceptos que ultrapassam as significações correntes. A arte abre aspectos da realidade que durante a maior parte do tempo são ignorados. Como no poema A Máquina do Mundo do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade, neste poema, o eu lírico caminha por uma estrada vazia, quando tem a visão da máquina do mundo se abrindo, rasgando o véu da razão e revelando a maquinação primeva que compõe a vida. A máquina do mundo é uma construção poética do plano intensivo presente nos múltiplos aspectos da realidade, tanto da realidade objetiva quanto da realidade subjetiva.

Existe o infinito por trás do ordinário e a arte é capaz de revelá-lo. Na poesia, o poeta artesão confecciona no poema o potencial que excede a realidade.

A poesia, ainda que seja uma arte em estreita associação com as palavras, é anterior à escrita. Por exemplo, os épicos homéricos são parte de uma tradição de transmissão oral. A Ilíada e a Odisseia foram compostas de maneira a ajudar a memorização dos bardos, a linguagem oral transformava em evento público a performance recitativa. Os versos eram cantados pelo aedo que entregava aos ouvintes as palavras que em suas imaginações criaram o mundo dos deuses e as aventuras dos heróis humanos. Dos textos clássicos à poesia experimental, o poeta é o artesão de um mundo que eclode na mente do leitor.

O poema é quase um passe mágico, a medida que é lido e relido é continuamente absorvido pelo leitor. Como bem coloca o filósofo José Gil, ao falar da obra do poeta Fernando Pessoa, a poesia é um processo de osmose entre o poeta e o leitor, através do qual o leitor sente algo junto com o poeta, algo que estava presente na escrita e se atualiza na leitura. O poeta constrói o poema como uma membra elétrica, fluida e maleável, um convite a sentir.

O poema não reside em sua forma, esta é a lapidação do poeta dando contorno a algo que foge ao entendimento, aquilo que é mais do campo sensório do que das palavras. Usar a linguagem para capturar o impossível que habita em nós. Sobre o processo de escrita a escritora brasileira Clarice Lispector declara em uma entrevista de 1977 que “Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador”. Usar a linguagem para reproduzir o irreproduzível, criar sentidos para uma experiência que sem a construção artística seria um sentimento sufocador.

O poeta é aquele que contempla o indizível e toma sobre si a tarefa de criar uma forma de compartilhar esta sensação. É interessante que Aldous Huxley no clássico As portas da Percepção, define o artista como aquele que consegue suportar uma maior abertura das portas da percepção sem ser destruído perante as forças da imanência. A arte, de maneira geral, possui o poder de recombinação dos signos. Seguindo esta linha de pensamento, fazendo uso de elementos e signos diversos a poesia cria uma linguagem própria, sentidos literários que constituem planos de partilha que permitem ao leitor acessar o plano intensivo que constitui a experiência poética.

Voltamos às questões iniciais, O que une todas as obras poéticas? Seria a essência da poesia?

Não tentaremos definir a essência da poesia, talvez este seja um dos aspectos indefiníveis do conceito, no entanto, entendemos que há um aspecto essencial: A capacidade da obra de fazer o leitor experienciar sensações impostas pelo poeta. A poesia é capaz de criar, ainda que momentaneamente, um campo sensorial de partilha, uma experiência de sentido que excede signos e palavras, possibilitando o acesso ao plano intensivo que constitui a vida

No fim, por mais que se tente teorizar e entender a poesia, o ato poético é a experiência do leitor. A sensação de perder o chão, o aperto no peito, o alívio do sufoco, o infinito que se toca quando os olhos estão sobre um poema.