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Junho - Apresentação
por Jonas Orwel & Notas do Autor

Junho - Apresentação por Jonas Orwel & Notas do Autor

written by Emanuel Souza

11 Jan 20241 EDITIONS
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Apresentação por Jonas Orwel

Minha primeira viagem ao Rio de Janeiro aconteceu no fim do verão de 2012. Estadia curta, quatro dias, tempo para o Congresso de Ciências Sociais, o motivo oficial da viagem. Entretanto, e principalmente, teria tempo para curtir a cidade de que tanto ouvira falar, o real motivo da viagem. E assim, por sorte ou destino, através de uma rede de couchsurfing, fui recebido por Dean em seu apartamento.

Junto com o anfitrião conheci todo o bando, um grupo animado, libertino e erudito. Uma mistura peculiar de personalidades e desejos. Universitários de diferentes graduações, em comum um senso guia de ética e liberdade. Ávidos em discutir teorias sobre a vida, o amor, o universo. Ansiosos em experimentar novos estados de consciência e êxtase. Pessimistas e apaixonados, contrafeitos aos sentidos programados pelo establishment. Foi esse bando epicurista que, duas semanas depois da primeira visita, me fez voltar ao Rio, dessa vez para uma estadia que se estendeu por três anos.

Nesse tempo foram longas as horas de conversa com Emanuel Souza, nessa época ele estava em meio à dissertação de mestrado, mas era a literatura que movia seu intelecto. Estava sempre segurando uma edição do manuscrito original de On the Road, falava empolgado sobre as páginas intermináveis sem parágrafo, sobre o ritmo do texto, and so on. Nessa inspiração vivia e observava os acontecimentos, escrevia as sementes do que se tornou esta obra chamada Junho.

Quando, pela primeira vez, tomei em mãos o manuscrito de Junho, senti nostalgia e júbilo percorrerem o corpo. Nostalgia por ter vivenciado eventos narrados, por reconhecer personagens, por ser parte das viagens e lutas. Júbilo por ver obra ímpar entregue aos olhos do mundo.

Junho tem ritmo frenético, marcado pela aceleração dos estados alterados de consciência e a efervescência política que contagiava o país. Mescla diferentes ritmos e estilos, conseguindo na mesma sentença a precisão da crônica jornalística e a surrealidade fantástica que se perde entre o sonho e a realidade.

Com relação aos fatos políticos e sociais, tem a delicadeza precisa do olhar sobre diferentes discursos, como cenas em pé diante das manchetes dos jornais, ou a tela do computador entre abas de portais de notícias e redes sociais. Delicadezas carregadas de sarcasmo, misturando discursos de uma distopia que nos tira o chão ao escancarara realidade diante de nossos olhos despreparados. A narrativa condensa, no espaço de um mês, acontecimentos ocorridos ao longo de um ano, possibilitando ampla visão dos eventos que culminam com o movimento de insurreição popular que passou a ser conhecido por Jornadas de Junho.

Entre os embates de uma crescente polarização entre partidos de direita e esquerda, o livro segue uma audaciosa afirmação política, transversalizando o binarismo, nos levando de mãos dadas pela busca de afirmações políticas e identitárias. Ainda que, dentro de parâmetros de filiação epistêmica, possamos colocar a narrativa como de esquerda, essa afirmação política é desprovida de proselitismo e religiosidade. Passa por uma análise de implicação, uma crítica aos movimentos de esquerda, ao mesmo tempo um brado de batalha contra o que aparece como o Sistema Operacional Capitalista.

Nessa luta, armas teóricas e filosóficas são importantes, em momentos somos colocados na discussão de textos e autores que permeiam o presente dos personagens, concomitantemente, são as experimentações que cooptam o leitor a partilhar chaves psicodélicas e novas formas existenciais. Grande gama de substâncias entorpecentes aparece ao longo do texto. Misturas de ervas criando a estrada de tijolos psicodélicos que guiam a busca por superar a existência humana, audaciosos seres que almejam tocar o fluxo que cria a existência. Em outras cenas, o ritual de ayahuasca onde a morte é experienciada, ou o profundo e alegre momento quando cogumelos mágicos compartilhados na praia vazia criam experiências que vão além da física e da gravidade. Momentos de experimentação, agonia e prazer, guiados por viagens de ácido lisérgico sonorizadas com solos de guitarra.

Dean, um dos personagens que nos acompanha nessa jornada literária, chama de Escritório Beat o terraço onde tantos dias passam entre filosofia e onda. Acertada nomenclatura, as referências à literatura Beatnik abundam em Junho, das mais claras às mais sutis e obscuras, são jovens inquietos, em busca de novas formas de experienciar o mundo, de novos estados de consciência, em busca do próximo orgasmo, em busca da próxima grande viagem.

Escrito em primeira pessoa, com a técnica de Exteriorização Presente, o livro é dividido em trinta capítulos, cada capítulo um dia do mês de junho de 2013. Beat realista psicodélico, o texto flui pelo cotidiano da boemia carioca, dos impasses políticos, da violência do estado. Traçado entre a crônica e a ficção, Junho é um mergulho literário na força da alma jovem e seus delírios utópicos.

NOTAS DO AUTOR

Junho é uma obra literária. Ainda que os acontecimentos retratados sejam inspirados na realidade, a trama e seu desenrolar são ficção. Como obra de literatura, o autor toma liberdades estilísticas e técnicas que, por vezes, afrontam a norma culta. Pensando em potencializar a

experiência do leitor, as notas a seguir funcionam como introdução e guia para a leitura.

A principal influência presente no texto é o Movimento Beat. Da mesma forma que On the Road, Junho é narrado em primeira pessoa. A trama interior do protagonista sobreposta a realidade exterior, em encadeamentos próximos ao fluxo de pensamento de William Burroughs. Outra influência que é necessário destacar é o estilo de José Saramago. Estilo este que parece ressoar com a liberdade Beat. Saramago é mestre dos períodos longos, nos quais ideais e diálogos se encadeiam em sequências de vírgulas com poucos pontos. Nesta junção estilística está situada a técnica de Exteriorização Presente na qual o livro é construído. Dentro da construção técnica, alguns pontos merecem destaque:

Entre a ficção e a crônica, um experimento literário na forma de ficção psicodélica. O texto fluido é um convite para ir além das palavras, tornando a leitura o ato de experienciar ritmos e sensações. Que este texto possa ressoar em você, leitor. Boa Viagem.

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